A dopamina é um neurotransmissor — um mensageiro químico do cérebro — cuja atividade está ligada à motivação que temos para fazer as coisas. É chamada de forma errônea de “hormônio do prazer”.
A liberação de dopamina pode ser acionada por uma série de estímulos externos, especialmente eventos inesperados. A molécula de dopamina relaciona-se ao sistema de recompensa do nosso corpo, e, segundo os defensores do jejum, o cérebro possui uma espécie de vício na sensação provocada por atitudes dispersantes, tais como: Fazer sexo, comer chocolate, navegar pelas redes sociais, ouvir música e falar com amigos.
Tendo em vista que isso atrapalharia o desempenho no trabalho, o Vale do Silício recomenda a exclusão dessas coisas “improdutivas”.
Dai surgiu o ” jejum de dopamina’.
Diferente do que se pode imaginar em um primeiro momento, o nome não se refere a uma estratégia alimentar, como o jejum intermitente ou a dieta cetogênica. Trata-se, na verdade, de uma prática que pretende nos “salvar” do vício em tecnologia e de toda uma série de outros danos, como comportamentos impulsivos.
Graças à vida moderna, cheia de tecnologia e entretenimento, nosso cérebro está sendo constantemente estimulado. Fazendo. assim, com que fiquemos distraídos, desmotivados e até ansiosos.
De fato, cada vez mais pessoas estão lutando contra o vício na internet e nas mídias sociais. Tal realidade está associada a mudanças negativas em várias regiões do cérebro. Assim, adolescentes e jovens adultos que passam cinco horas por dia em seus telefones (o que é muito fácil) têm duas vezes mais chances de apresentar sintomas de depressão. Também, a multitarefa digital (pense em checar e-mails enquanto assiste à Netflix e checar periodicamente o Instagram para ver se sua postagem teve mais curtidas) pode diminuir a memória de longo prazo.
Jejum de dopamina: O que é
Embora não exista uma definição oficial, o jejum de dopamina inclui evitar a maioria das atividades que alguém acharia prazerosas ou agradáveis (pense no Facebook e Instagram, Netflix, alimentos hiper palatáveis como pizza, música e mesmo exercício) por um período de tempo.
Desse modo, a ideia é que esse vazio de prazer limita a exposição a rajadas rápidas de dopamina – um neurotransmissor associado a prazer, recompensa e motivação – agora, para que você possa sentir mais prazer mais tarde e assumir suas responsabilidades com energia e motivação novas.
Assim, alguns simplesmente tratam a estratégia como uma desintoxicação de mídia digital ou social, enquanto outros lançam uma rede de prazer mais ampla e extremista, e nem sequer se comunicam durante o período de jejum, a menos que seja absolutamente necessário.
Entretanto, a novidade levantou muitas perguntas sobre o que realmente está acontecendo no corpo durante um jejum de dopamina, se a ciência apoia a metodologia e se ela é mesmo tão diferente de desligar o celular de vez em quando ou meditar.
Dopamina: O que é?
A lógica científica proposta para o jejum de dopamina, geralmente dada por pessoas que produzem dopamina rapidamente, costuma ser algo assim. A liberação frequente de dopamina através de atividades prazerosas eleva sua linha de base para a dopamina. Em outras palavras, ela sobrecarrega os receptores do cérebro, portanto, torna você menos sensível à dopamina.
Então, a ideia continua: você precisa de mais estímulo (mais doces, mais vídeos de filhotes, mais curtidas) para colher a mesma recompensa prazerosa. Mas, evitando esses estímulos por um tempo (ou seja, jejum de dopamina), você pode aumentar o número de receptores de dopamina de volta.
O que diz a ciência sobre o jejum de dopamina
Tal explicação para o jejum de dopamina deriva de conceitos reais de neurociência descobertos em pesquisas sobre toxicodependência. Assim, o corpo pode fazer “ajustes moleculares” nos receptores de dopamina no cérebro ao longo do tempo se for inundado com muita dopamina. Mas, isso provavelmente não aconteceria a menos que alguém estivesse tomando drogas como opiáceos ou tivesse um distúrbio neurológico.
Então, isso significa que o jejum de dopamina não funciona? Bem, sim e não, dizem os especialistas. Primeiro, o jejum de dopamina literalmente não é algo que podemos fazer. Precisamos de dopamina para o funcionamento corporal básico, e evitar estímulos não fará com que a produção de dopamina pare. E essa ideia de que você se beneficiará com o corte de estímulos em geral – incluindo comportamentos saudáveis como se exercitar e socializar com os amigos – também é provavelmente falha.
Fazer ou não fazer
Ainda assim, é bom fazer pausas na tecnologia. Pois, nos tornamos muito dependentes dela e isso certamente pode afetar a saúde mental de maneiras adversas. Porém, regular a resposta à dopamina é muito mais complexo do que evitar todas as coisas que podem trazer “alegria”.
Mas, há algumas notícias positivas. Caso o seu jejum de dopamina inclua o corte de comportamentos específicos que você descreveria como impulsivos, viciantes ou que simplesmente farão você se sentir mal, alguns especialistas acreditam que pode resultar em um grande benefício. Pois isso pode enfraquecer a associação entre um estímulo/comportamento específico, e a recompensa de sentir-se bem que se segue.
Dessa maneira, não estamos jejuando com a dopamina em si, mas com comportamentos impulsivos reforçados por ela. Portanto, a prática pode ser vista como uma maneira de entrar em contato com seus desejos, acalmar a mente, limpar a ansiedade e tornar-se mais disciplinado.
Por fim, à medida que entramos em uma nova década, esperamos ver mais uso consciente da tecnologia. Assim, se o jejum de dopamina atrai as pessoas a fazer essas mudanças saudáveis, é uma tendência que provavelmente podemos seguir.
O jejum de dopamina também se assemelha estranhamente a outro método de busca pelo bem-estar, porém muito mais antigo: a meditação vipassana, um dos dois principais fundamentos da meditação budista, que, por sua vez, existe há mais de 2.500 anos.